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terça-feira, 26 de abril de 2011

Desapego de mim





Lembro daqueles dias que eu dizia que ainda conheceria o mundo. Finalmente, muitos foram ver de perto a minha partida. Meus olhos dançaram com passos marcados e repetitivos pelo último flash no Aeroporto Internacional de Guarulhos, querendo gravar aquela bela cena: a surpresa de amigos, parentes e sorrisos presentes. Um sentimento apertado acompanhou meus últimos segundos ao lado  daquele mundo que eu conhecia e, até então, nem percebia. Após eu entrar pelo portão 24, com destino à Irlanda, eu seria apenas mais uma brasileira muda, surda e cega na linguagem inglesa que sentiria uma baita saudade de queijo branco e suco natural.

Eu queria ir  - por demais da conta, mas na despedida de meus pais, eu preferia não acreditar. Eu achei que seria fácil, mas um medo apertava minha garganta ao pensar em qualquer sofrimento de minha família. Tudo bem que as sensações seriam amenizadas logo depois dessa fase, e cada um tentaria se acostumar com a mudança. Nas teorias de minha irmã, temos que morrer um pouco todo dia para nascer em um dia novo. Desta vez morri grande, tudo pelo sonho de bater asas e viajar.

O motivo encontrado foi o estudo, porém com um significado de realizar um dos meus maiores sonhos, conhecer a Europa, contar essa histária, acreditar que sonho é possivel, e ainda, quem sabe, ajudar com a reação de transformar este desafio mais fácil para amigos, irmãos, filhos, etc. Isso tudo foi uma aventura por não sabermos sobre nosso futuro, e não ter idéia se ao voltar as coisas continuariam em seu lugar.  Com certeza não, as possibilidades são inúmeras daquilo que abro mão de viver e daquilo que me abro para a vida.



4 comentários:

  1. Vanessa,
    Que bom te ter de volta aqui escrevendo. Que gostoso esse seu relato. Impossível não me lembrar da música "Encontros e Despedidas", do Milton Nascimento. Nesse grande saguão da vida, os outros saguões, as partidas, as voltas, as mudanças, os novos horizontes. No seu descrever dá pra "ver" um brilho nos seus olhos, misto de fascínio, medo, melancolia e alegria... coisas da descoberta, coisas do viver.
    Bom voltar a te ler.
    Beijo grande.

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  2. Já passei por isso também,é uma sensação de euforia e medo, onde fechamos os olhos e mergulhamos de cabeça.

    Walney.

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  3. Nunca passei por tal sensação, nesse sentido o máximo que cheguei até hoje, foi ir morar sozinho!em outro estado.kkk

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  4. Que texto bem escrito esse seu, com palavras fortes e cortantes qual navalha afiada. Meus parabéns.

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